Resenha do filme Os Contos proibidos do
Marquês de Sade
O filme retrata a trajetória real de um escritor que abalou a sociedade
francesa do final do século XVII, no período monárquico de Napoleão Bonaparte.
A história relata os últimos anos de vida do escritor Marquês de Sade que ficou
recluso no manicômio de Charenton. O Marquês de Sade tinha alguns privilégios,
como um quarto com todo aparato para assim poder escrever suas obras como uma
maneira de canalizar seus impulsos violentos e sexuais.
Sade conseguia manter sua
literatura na atividade, pois com a colaboração de algumas pessoas, como a
camareira Madelaine, com quem manteve um elo forte de atração e amizade,
enviava seus escritos à editora a fim de ser publicados. Porém, com a intencionalidade de impedir
esses escritos é designado um novo médico para o manicômio.
O filme os contos proibidos do
Marquês de Sade demonstra como a literatura tem o poder de mudar e a capacidade
de persuadir os pensamentos de muitas pessoas, utilizando dos argumentos do
prazer e aflorando a sexualidade, e demonstra, ainda, como as pessoas são
propensas às influências nas leituras.
Ao analisarmos esse filme,
observamos que todos os personagens possuem características da perversão, sendo
que a intenção é de realizar um entendimento por meio da psicanálise. O
escritor era responsável em revelar os desejos mais recalcados de libertinagem,
em uma época em que prevalecia a moral baseada na obediência. Sade utilizava
dos recursos de seus escritos sádicos demonstrando que se deviam gozar os
prazeres não como algo proibido. Sua obsessão pela escrita era a de escrever em
qualquer lugar, de qualquer modo, tiraram a pena, escreveu com vinho, escreveu
com o próprio sangue, em uma busca insana para satisfazer seu prazer em
escrever seus contos no sofrimento do leito de morte, busca de forma chocante
escrever seu último conto com seus excrementos.
Podemos ressaltar a cena do filme em que a
esposa do médico do manicômio, por meio da leitura dos contos de Sade
libertou-se de desejos oprimidos, dos quais ela não poderia sentir com seu esposo, pois
tinha severidade e acreditava que o prazer era uma via de mão única. Ao contrário de seu amante, que juntos viviam
momentos de intenso prazer, demonstrando que ter prazer não é algo proibido.
Marquês de Sade demonstra o poder de persuasão em seus escritos, pois a
instancia do ID estava presente em seus contos.
Outra cena do filme em que o
Abade sente uma culpa profunda por não ter conseguido conter os instintivos
mais perversos do Marquês de Sade, em que Madelaine é morta por um paciente que
foi tomado pelo desejo insano de matar, provocado pelo escrito de Sade. Após a
morte de Madelaine o Abade é tomado por um sentimento de culpa, por seu amor a ela,
Abade entra num estado deplorável de culpa, um masoquismo moral.
O desejo que o Abade sente por
Madelaine torna-o fora de si. Deseja-a cada vez mais, e seu inconsciente traz
lembranças da donzela sendo que num momento de desprendimento do corpo, sonha
com a amada e se entrega ao prazer. Neste momento o ID se torna o comandante de
seus mais insanos desejos por essa mulher, que pelo fato de ser padre, num
momento consciente não pode tê-la em seus braços.
Em outra cena o Abade é tomado
por um sentimento horrendo de fúria e necessidade de vingança, e sem pensar nas
consequências e regras impostas pela sociedade, desesperado, se entrega ao sentimento
de rancor e decide fazer justiça com suas próprias mãos. Esse sentimento de
vingança faz com que Abade corta a língua do Marquês de Sade e entrega ao
médico do manicômio. Nesse momento, o superego entra em ação e o faz sentir
culpado por todas as ações realizadas até o momento.
A partir desse
momento o Abade se torna escravo dos seus pensamentos mais profundos, onde o
seu ID toma conta de todas as instâncias, e a necessidade de escrever, colocar
no papel os seus desejos mais insanos, agora o perturbam de tal forma que ele
assume o papel que o escritor Sade tinha antes.
Conclui que Sade
com seus contos proibidos provocou um "mal estar na civilização",
pois todos aqueles que de tal forma, puderam ler esses contos, tiveram suas
vidas transformadas. O sadismo e o masoquismo estão presentes em seus contos a
todo tempo, não como duas vertentes separadas, mas sim como duas vertentes em
uma mesma perversão, ou seja, o sádico era o mesmo tempo um masoquista, assim
não existia uma predominância que caracterizasse a atividade passiva ou ativa
que predominasse na perversão.
Diante disso, de
alguma forma, pode-se dizer que o filme demonstra a implícita reflexão de que
todas as pessoas podem ter qualidades do escritor Sade, do Abade, do médico, da
Madelaine, e, de outros personagens do filme, pois coloca uma questão
fundamental que é a de como lidar com as paixões mais cruéis tendo a finalidade
de encontrar um ponto de superação e de civilização.
Neste sentido, levando
em consideração a linha teórica da psicanálise, indicamos o filme “Os contos
proibidos do Marquês de Sade” e consideramo-nos didático dentro do ambiente
Universitário para se trabalhar questões ligadas a essa linha, pois se abre um
leque de discussão acerca de temas importantes da psicanálise como, por
exemplo: o sadismo, o masoquismo, entre outros. Dando a oportunidade de
observar essas vertentes aplicadas nos personagens.
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